• BELAS MALDIÇÕES

    A série “Good Omens” (Belas Maldições) é uma produção original da Amazon, concorrente da Netflix, baseada no livro homônimo de Terry Pratchett e Neil Gaiman, publicado em 1990 no Reino Unido. A história é apocalíptica: um anjo chamado Aziraphale e um demônio chamado Crowley decidem unir forças para impedir o Armagedom e o fim do mundo.

    O que torna a narrativa fascinante é que esses dois seres se conhecem desde o Éden, tendo presenciado a queda da humanidade com Adão e Eva. Eles também estiveram presentes em momentos históricos, como as guerras medievais e a Revolução Francesa. Aziraphale trabalha para o céu e Crowley para o inferno, mas ambos se apegam aos prazeres da vida: Aziraphale ama sua livraria e a boa comida; Crowley aprecia música, seu carro e o conforto terrestre. Mesmo pertencendo a lados opostos, a atração pelo mundo os une em um objetivo comum: evitar que o Anticristo e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse iniciem a batalha final.

    Essa história, ao mesmo tempo engraçada e confusa, leva a uma reflexão prática: até mesmo seres espirituais, cientes da transitoriedade da vida na Terra, se acostumaram e se apegaram a este mundo. Assim como Aziraphale e Crowley, muitos cristãos têm receio do arrebatamento e da consumação dos séculos, mantendo o coração ligado aos prazeres terrenos.

    O saudoso Dave Hunt relatou uma história emblemática: um pastor perguntou à congregação quem desejava ir para o céu. Todos levantaram as mãos, exceto um jovem. Ao ser questionado, ele respondeu:

    “Claro que quero ir para o céu!”

    O pastor então perguntou:

    “Então por que não levantou a mão?”

    E o jovem disse:

    “Pensei que a pergunta fosse sobre quem queria ir para o céu agora.”

    Isso revela o quanto nos apegamos às coisas temporais, muitas vezes temendo a consumação dos séculos.

    A Bíblia, porém, nos ensina a amar a vinda de Cristo e a esperar pelo arrebatamento com alegria. Em Romanos 8.19-26, aprendemos que toda a criação anseia pela manifestação do Filho de Deus, e nós, filhos da luz, devemos aguardar com esperança a transformação de nosso corpo corruptível em incorruptibilidade (1Co 15.53).

    No céu, estaremos livres de dor e morte. Não haverá mais lágrimas, nem pranto, nem clamor (Ap 21.4). Encontraremos os amigos que, em Cristo, se tornaram irmãos e viveremos na luz eterna, sem necessidade de sol ou lua, pois a glória de Deus iluminará a Santa Cidade (Ap 22.5). Jesus nos lembra:

    “Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (Ap 22.7).

    A segunda vinda de Cristo e o arrebatamento não são motivos para medo, mas para consolo e esperança. Paulo, em 1Ts 4.13-18, descreve que seremos transformados num piscar de olhos e levados pelo Espírito Santo para encontrar nosso Salvador. O versículo 18 nos exorta:

    “Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.”

    O mundo oferece muitas coisas, até lícitas, mas nem todas são convenientes. Não podemos trocar uma eternidade de alegria pelos prazeres passageiros do mundo. Devemos viver com temor de sermos deixados para trás e afirmar com fé:

    “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!” (1Co 16.22)



    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 31 de março de 2020

  • CONFISSÕES DE UM CRISTÃO QUE NÃO LÊ A BÍBLIA


    Às vezes sou confrontado ao ouvir pregações que exaltam a Palavra de Deus, justamente por exortar o cristão a ser um leitor assíduo da Bíblia. Meu professor da Escola Bíblica Dominical, por exemplo, me pergunta frequentemente por que não leio a Bíblia. Vários irmãos me fazem a mesma pergunta, uma vez que canto todos os domingos, com lágrimas nos olhos, que amo Deus e Sua Palavra. E sempre respondo a mesma coisa: não tenho tempo! Acredite, é sério.

    Não tenho tempo para ler a Palavra de Deus, mas já assisti a todos os melhores filmes e seriados da Netflix. Aliás, que demora para sair episódios novos, hein?

    Não tenho tempo para ler a Bíblia, mas posso atualizar qualquer um sobre o que está acontecendo na novela das nove, pois não perco um capítulo sequer. Afinal, quem matou o mocinho? Estou ansioso para descobrir!

    Não tenho tempo para ler a Palavra de Deus, mas se você entrar no meu jogo online favorito, verá que meu personagem é o melhor da guilda. Consegui os melhores equipamentos e passei horas para isso.

    Não tenho tempo para a Bíblia, mas não perco um jogo do meu time de futebol. Sei os nomes de todos os jogadores e suas posições. Depois do jogo, nada me diverte mais do que compartilhar memes engraçados com os torcedores do time perdedor. Sim, isso toma horas da minha vida, mas, ao ver a reação deles, sinto que valeu a pena (risos).

    Não tenho tempo para a Palavra de Deus, mas a pelada de quarta-feira é sagrada.

    Não tenho tempo para meditar na Bíblia, mas sigo aquela youtuber famosa que ensina dicas de maquiagem e looks para todas as estações do ano. Ela é engraçada e elegante, e ainda publica vídeos novos diariamente. Opa! Acabou de sair mais um!

    Não tenho tempo para ler a Bíblia, mas passo horas nas redes sociais: Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp. Alguns dizem que é por curiosidade sobre a vida alheia, mas, na verdade, quero saber das novidades da rede e conferir os trending topics da semana. E, claro, adoro vídeos engraçados — já viu o gato tocando piano? É hilário!

    Refletindo com sinceridade, percebi que meu problema não é falta de tempo, mas de prioridade. Prioritizo todas essas coisas acima, menos a Palavra de Deus. Você pode se perguntar: “Então por que não diz logo a verdade?” A resposta é óbvia: sou cristão e preciso manter uma reputação piedosa. É mais fácil dizer que não tenho tempo do que admitir que não tenho interesse na Bíblia.

    Em resumo, eu teria mais coisas a declarar, mas… o segundo tempo do jogo já vai começar.


    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 16 de outubro de 2019

  • CUIDADO! VOCÊ NÃO PODE ERRAR

    UM FACHO DE LUZ NA MÚSICA SECULAR


    Você já parou para pensar que até mesmo a música secular pode conter um facho de luz? Ainda que o objetivo principal da letra não seja glorificar a Deus, algumas canções podem trazer pequenas lições que fazem o ouvinte refletir sobre dificuldades da vida.

    “Examinai tudo. Retende o bem.” – Apóstolo Paulo

    Certo homem de periferia vivia com prudência e conquistara o respeito daqueles ao seu redor. Jogava bola com os amigos, tinha uma namorada e se vestia com cuidado dentro do possível. Certo dia, começou a se misturar com rapazes de maior poder aquisitivo e, a partir daí, sua vida mudou completamente. Mergulhou em festas, bebidas e relacionamentos superficiais. No fim, tornou-se um mendigo, perdendo até sua dignidade.

    A música Capítulo 4, Versículo 3, do grupo Racionais MC’s, narra essa história, mostrando a realidade de milhares de brasileiros. Ela alerta para o fato de que jovens das periferias não podem errar demasiadamente nas decisões da vida, sob risco de se perderem. A mensagem é clara: é preciso cuidado com atitudes e escolhas, especialmente quando se parte de uma condição de vulnerabilidade social.

    Quando ouvimos o trecho em que o personagem vivia com prudência, percebemos que ele tinha tudo para uma vida digna. Mas, ao se aproximar dos chamados “branquinhos do shopping” — jovens de maior poder aquisitivo — sua vida desmoronou. Perdeu tudo, chegando ao fundo do poço.

    O que deu errado?

    É preciso refletir sobre a vida dentro e fora da favela, sobre a escassez e a abundância. Jovens sem uma vida cristã tendem a se entregar aos desejos da carne, mas os resultados diferem conforme o contexto social. Quando um “playboy” perde tudo, muitas vezes há suporte familiar: clínicas de reabilitação, cursos, faculdade, casa, comida, roupa lavada, orientação para entrar no mercado de trabalho. Já um jovem carente, ao errar, não encontra ninguém para ampará-lo. Para ele, o caminho para a ostentação muitas vezes passa pelo crime.

    O caminho da prosperidade é possível, mas exige trabalho, dedicação, renúncia e paciência. Esta é a porta estreita da vida, enquanto o crime é uma porta larga e confortável que conduz à perdição.

    A desigualdade social é dura e não podemos mudá-la individualmente. Jesus mesmo disse que, nesta era, os pobres sempre existiriam (Jo 12.8). Contudo, decisões sábias podem amenizar os riscos da vida. O mundo oferece muitas tentações, mas não vale trocar a eternidade de alegria pela efêmera prosperidade que ele proporciona. A verdadeira prosperidade e paz plena acontecerão quando Cristo descer do céu com sua igreja glorificada para estabelecer seu Reino milenar (Ap 20.4-6). Até lá, é preciso vigilância e prudência.

    Talvez você pense que tudo está perdido e considere se entregar a este mundo de ilusões. Quero lhe dizer que existe um Deus que te ama e deseja o teu bem. Mas é necessário esforço da sua parte: resista ao dia mal, trabalhe com honestidade, entregue seus caminhos ao Senhor e confie que Ele cuidará de você.

    Não podemos abrir brechas para Satanás agir em nossas vidas por meio da mídia corrompida, outdoors ou mensagens enganosas. Ele age como um leão, procurando a quem devorar.

    A música citada, embora secular, se dirige à população periférica e ensina uma lição importante: a vida exige cuidado redobrado quando se parte da escassez. Se o único copo de água está em suas mãos, é preciso andar com prudência pelo deserto para não tropeçar.

    Nota: A canção comentada é um rap nacional e, como tal, tem suas peculiaridades. Caso você seja sensível a esse tipo de conteúdo, não é necessário ouvi-la. O que importa nesta reflexão é o princípio presente no que podemos chamar de “facho de luz” da mensagem, mesmo em um contexto improvável.



    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 17 de maio de 2019

  • A TRISTE ALEGRIA DE PECAR

    “Nada é errado se te faz feliz”

    Algumas páginas da internet atribuem a autoria dessa frase ao ilustre Bob Marley, que no passado protagonizou uma carreira artística de enorme sucesso. O fato é que a alegria proveniente do pecado realmente existe e é prazerosa para a carne; porém, seu resultado desastroso é tão certo quanto aquela ressaca que desperta com você pela manhã dizendo: “é hora de trabalhar.”

    Nas festas de réveillon do estado do Espírito Santo, por exemplo, é comum ver jovens e adultos reunidos com amigos, festejando e se embriagando pelas ruas ou em eventos particulares. Os momentos — eu sei — são alegres e prazerosos, porque as obras da carne seguem a todo vapor nesses ambientes.

    E o apóstolo Paulo descreve claramente algumas delas em Gálatas 5.19ss:

    Prostituição

    Ato ou efeito de prostituir-se; entregar-se à devassidão; desmoralizar; corromper. [1]

    A prostituição tornou-se uma cultura dominante não apenas no Espírito Santo, mas em todo o Brasil. O famoso “ficar” — relações sexuais sem qualquer compromisso conjugal — é incentivado por músicas de funk, axé, pagode, sertanejo e outros ritmos populares que tocam no rádio para crianças, jovens e adultos.

    Com a tecnologia, tudo isso avançou ainda mais: aplicativos de relacionamento funcionam como verdadeiros “menus” de homens e mulheres. Basta escolher, conversar, encontrar, relacionar-se… e repetir o ciclo no dia seguinte. O velho paradigma da pessoa sexualmente devassa tornou-se obsoleto. A liberdade sexual promovida pela mídia transformou o sexo sem compromisso em uma via de fácil acesso para todos.

    Impureza

    Qualidade do que é impuro; aquilo que perturba a pureza; corrupção sexual. [2]

    Hoje, dizer que o ato sexual é reservado para marido e mulher tornou-se motivo de piada em uma mesa de bar. E afirmar que o sexo foi criado para o prazer mútuo entre homem e mulher, exclusivamente dentro do casamento, pode até ser considerado um “crime” (homofobia), segundo a visão distorcida da pós-modernidade.

    Casas de swing expõem a impureza conjugal às claras, com casais trocando parceiros como quem troca figurinhas.

    Além disso, a crescente pluralidade de identidades sexuais — crossdresser, drag queen, drag king, pansexual, transexual e tantas outras — reforça, de forma meticulosa, o sentido bíblico de impureza: alterar aquilo que Deus estabeleceu. Na sociedade atual, tudo isso é chamado de normal. Tudo é relativo.

    Lascívia

    Conduta vergonhosa, sensualidade, libertinagem, luxúria (Mc 7.22; Gl 5.19). [3]

    Assim como as obras citadas acima, a lascívia governa a nossa sociedade. Basta sair às ruas: o apelo sensual é gritante. Milhões de mulheres — de todas as idades — usam shorts, saias e vestidos curtíssimos, decotes profundos e todo tipo de vestimenta que exalta a sensualidade.

    As justificativas são conhecidas:

    “Uso porque me sinto bem.”
    “Uso porque é confortável.”

    Mas sabemos que, na maioria das vezes, essa não é a real motivação.

    Nas redes sociais, a sensualidade ganhou palco e iluminação. Buscando elogios, prestígio e status, muitas mulheres expõem seus corpos para acumular curtidas e visualizações. Talvez isso fosse apenas um problema moral, se não fosse o fato de muitas dessas mulheres serem menores de idade. Pense nisso.

    O pecado não dói na hora

    A história de Davi, em 2 Samuel 11, exemplifica isso perfeitamente.

    Num dia em que deveria estar em guerra, Davi ficou em casa. Do alto do palácio, viu Bate-Seba tomando banho. Mesmo sabendo que ela era esposa de Urias — seu servo leal — Davi enviou mensageiros, trouxe a mulher e adulterou com ela. Ele a engravidou. E, para encobrir o adultério, planejou a morte de Urias.

    Enquanto estavam juntos na cama, a alegria temporária estava presente. O prazer carnal foi intenso. Mas as consequências foram devastadoras.

    1. Vergonha – Deus revela o pecado

    Não há nada pior para um pecador do que ter seu pecado oculto exposto à luz. A vergonha pública é dolorosa. Deus não permite que pecados escondidos permaneçam ocultos para sempre.

    Davi também experimentou vergonha quando soube que seu filho Absalão se deitava com suas mulheres diante de todo o povo (2Sm 16.21–22).

    2. Desordem familiar — um abismo chama outro abismo

    A família de Davi mergulhou em tribulações:

    • seu filho com Bate-Seba morreu (2Sm 12.15–23);
    • Amnom violentou sua irmã Tamar (2Sm 13.1–14);
    • Absalão matou Amnom para vingar Tamar (2Sm 13.23–29).

    Como bem disse o comentarista:

    “Quando não vivemos uma vida digna do Deus a quem servimos, a primeira atingida é a nossa família… Seremos para nossos filhos exemplos para o bem ou para o mal.” [4]


    As consequências do prazer pecaminoso

    Uma pessoa não guiada pelo Espírito Santo é facilmente arrastada pelas obras da carne. As características deste fruto são:

    1. Casamentos desfeitos
    2. Famílias destruídas
    3. Adultério
    4. Suicídio
    5. Depressão
    6. Gravidez indesejada
    7. Homicídios
    8. Doenças sexualmente transmissíveis
    9. Traumas emocionais
    10. Morte espiritual


    Toda alegria do pecado termina em dor, vergonha e destruição.

    Por isso, clamo a Deus por um avivamento pessoal no Espírito Santo — começando por mim. Se eu realmente tivesse o “livre-arbítrio” que muitos defendem, eu escolheria jamais pecar e encorajaria meus entes queridos a serem “espertos” como eu. Mas toda honra e toda glória pertencem ao Senhor.

    Que sejamos lavados no sangue de Jesus, perdoados de nossas iniquidades e preservados do dia da ira. Que busquemos ao Senhor enquanto se pode achar e o invoquemos enquanto está perto, pois na sepultura não há esperança para os condenados.

    Uma antiga canção reflete a atual realidade

    “Eu comparo a vida do homem sem Deus
    Como uma folha seca caída no chão.

    Que vai para onde o vento levar,
    Tudo é tristeza, tudo é solidão.

    Seu viver é triste, tão cheio de dor,
    Seus dias turbados, sem consolação.

    Assim é a vida do homem sem Deus,
    É uma folha seca caída no chão.”
    — Jair Pires


    A folha seca é levada pelo vento, sem direção nem destino. Mas o crente em Cristo tem um alvo. E é para Ele que devemos caminhar — só assim encontraremos a plena, verdadeira e desejada felicidade.

    “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”
    (Filipenses 3.14)




    Referências Bibliográficas

    [1] AURÉLIO, Antônio. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. v. 5.0. Windows: editora Aurélio, s.d.

    [2] SILVA, Claudemir Pedroso da. Dicionário e Estudos Bíblico. Vitória: Editora PAE, s.d.

    [3] Ibid.

    [4] IBVIR. As consequências do pecado de Davi. Disponível em: http://www.ibvir.com.br/sermoes/davi_consequencias_do_pecado_de.htm. Acesso em: 22 dez. 2025.

    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 08 de julho de 2017

  • PALAVRAS TAMBÉM MATAM

    JESUS E O ASSASSÍNIO


    “Aquele que lhe disser: tolo, será réu do fogo do inferno”
    Mateus 5.22


    No dia 20/02/2017, estudávamos o livro de Provérbios em um curso de teologia em uma igreja do bairro Resistência em Vitória/ES, e o tema central da exposição foi Provérbios 1.7, que afirma:

    “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução”.


    À primeira vista, surge uma aparente contradição quando comparamos esse texto com a declaração de Jesus em Mateus 5.22:

    “…e aquele que lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno”.


    Diante disso, surge a dúvida: se uma pessoa chamar alguém de tolo, insensato ou louco, ela perderá a salvação?

    Essa linguagem não aparece apenas em Mateus 5.22, mas em diversas outras passagens do Novo Testamento. A seguir, alguns exemplos — observando que foram utilizados apenas textos em que aparece a palavra grega usada em Mateus 5.22 para “tolo”, a saber, morós ou moré:

    • Mateus 7.26 – “E aquele que ouve estas minhas palavras e não as cumpre compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.”
    • Mateus 23.17 – “Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o templo que santifica o ouro?”
    • Mateus 25.2 – “Cinco delas eram prudentes, e cinco loucas.”
    • 1 Coríntios 1.27 – “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias…”
    • 2 Timóteo 2.23 – “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.”
    • Tito 3.9 – “Mas evita questões loucas, genealogias, contendas e debates acerca da lei…”



    Assassínio – A mensagem de Mateus 5.21–22

    “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.”


    Nesta passagem, Jesus ensina uma lição profunda acerca do sexto mandamento. Ele inicia dizendo “ouviste” porque a maioria das pessoas presentes no Sermão do Monte não sabia ler. Mesmo entre os que sabiam, as Escrituras não eram acessíveis ao povo comum. Assim, o conhecimento bíblico vinha principalmente pela leitura pública nas sinagogas e pela exposição dos escribas.

    Jesus prossegue dizendo:

    “Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.”


    A palavra “Raca” é um termo de desprezo, originado no orgulho. Salomão chama esse tipo de pessoa de zombador:

    “Zombador é o seu nome, o soberbo e presumido” (Pv 21.24).


    Trata-se de alguém que desdenha do irmão, equiparando-o a algo vil, indigno — quase como um cão.

    Já a palavra “louco” (aqui, moré, do grego μωρέ) expressa rancor e ódio. Não descreve apenas alguém comum ou ignorante, mas alguém considerado moralmente reprovável, indigno de amor e de honra — “homem iníquo, réprobo”.

    Matthew Henry observa corretamente que Jesus ensina que o uso de linguagem ultrajante contra o irmão constitui um assassinato pela língua. Quando tais palavras são usadas com moderação e boa intenção — para corrigir, advertir ou expor a vaidade e a tolice — não são pecaminosas. Por isso, Tiago diz:

    “Ó homem vão” (Tg 2.20),
    Paulo afirma:
    “Insensato!” (1Co 15.36),
    e o próprio Cristo declara:
    “Ó néscios e tardos de coração” (Lc 24.25).


    Entretanto, quando essa linguagem nasce da ira interior e da maldade do coração, ela se torna a fumaça do fogo que arde no inferno, enquadrando-se na mesma gravidade moral.

    Em suma, para Jesus, a atitude de ira contra o irmão é um pecado gravíssimo — tão sério que merece o mesmo juízo associado ao assassínio. As palavras amargas são como flechas que ferem mortalmente (Sl 64.3).

    Quem se encoleriza corre o risco do juízo; quem chama o irmão de “Raca” se expõe ao conselho; mas quem o chama de “louco”, no sentido de pessoa profana e condenável, coloca-se em perigo do fogo do inferno — o mesmo destino que deseja ao outro.

    Por isso, diante da ira, o caminho cristão é a reconciliação. O amor e a caridade são o ápice da vida daquele que está em Cristo. Jesus conclui dizendo:

    “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; e depois vem e apresenta a tua oferta.”
    (Mateus 5.23–24)




    Referências bibliográficas (ABNT)

    BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida Fiel.
    Disponível em edições impressas diversas.

    STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong.
    Rio de Janeiro: CPAD, s.d.

    HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry.
    Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, s.d., p. 52–53.

    CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado.
    Vol. 1. São Paulo: Hagnos, s.d., p. 310–311.



    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 23 de fevereiro de 2017

  • O QUE ACONTECE APÓS A MORTE?


    Decidi colocar este diagrama em pauta por causa de um problema que vem crescendo entre ouvintes pentecostais e reformados de Vitória/ES, que passaram a acompanhar a rádio Novo Tempo (suspeito que por falta de opção). A emissora, como se sabe, é um órgão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Diariamente, nesse meio de comunicação, ensina-se que nós somos uma alma e que, quando alguém morre, simplesmente “dorme”, entrando em um estado de inconsciência semelhante ao que existia antes do próprio nascimento.

    Segundo essa doutrina, a pessoa que dorme só despertará quando Jesus voltar. Depois disso, os salvos viverão eternamente, enquanto os condenados sofrerão por um determinado período de tempo (?) e, em seguida, deixarão de existir — desta vez, de forma definitiva e eterna.

    Concordo com a avaliação de R. C. Sproul ao afirmar que a doutrina do sono da alma representa um afastamento do cristianismo histórico e ortodoxo. Embora essa posição ainda exista no meio cristão, ela sempre ocupou um lugar minoritário. A compreensão tradicional da Igreja, desde os primeiros séculos, é conhecida como estado intermediário. Segundo esse entendimento, no momento da morte a alma do crente é imediatamente conduzida à presença de Cristo, onde passa a experimentar uma existência pessoal, contínua e consciente, enquanto aguarda a ressurreição final do corpo.

    Esse ensino não é uma construção tardia, mas uma doutrina bíblica e histórica, sustentada pelos pais da Igreja e reafirmada pelos reformadores do século XVI.



    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 2 de fevereiro de 2017

  • O Diagnóstico e o Evangelho


    Introdução

    “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça.”
    Romanos 5.20

    O que pode ser pior do que ir ao médico, fazer alguns exames e receber um diagnóstico trágico?

    Imagine um consultório médico. Nele, há apenas você, o médico e o resultado dos seus exames nas mãos dele. Você está se sentindo bem, saudável, e ansioso para ouvir o médico dizer que está tudo bem, pegar seus exames e voltar tranquilamente aos seus afazeres do cotidiano.

    O médico abre o envelope com os resultados e demonstra espanto. Olha para você com os olhos arregalados e pergunta:

    — Você está vivo?!

    Você, estranhando a pergunta, responde que sim. Então ele explica:

    — Estou dizendo isso porque você está cheio de tumores espalhados pelo corpo! Você está me ouvindo? Há tumores nos seus ouvidos! Você está me enxergando mesmo?! Sua visão também está comprometida! Sua situação é gravíssima!

    Conseguiu imaginar? Quão grande seria o seu desespero?

    Mensagem

    A lei revela o caráter e a vontade de Deus, mas o homem, por si só, não pode cumpri-la, porque foi manchado pelo pecado. Todos nós nascemos filhos de Adão. Por isso, a lei serviu como um termômetro: ela diagnosticou e revelou a doença.

    A humanidade tornou-se doente por causa de Adão e, assim como o termômetro detecta a febre, mas não pode curá-la, a lei revelou o pecado. Ao comparar nossa vida com a lei de Deus, a doença é diagnosticada, mas a lei é incapaz de nos salvar. Por esse motivo, o versículo supracitado é enfático ao dizer que o pecado abundou no mundo.

    No capítulo um de Romanos, Paulo prova que, se os gentios dependerem de seus próprios méritos, receberão a condenação como salário. No capítulo dois, ele mostra que os religiosos legalistas, por suas obras, também merecem a condenação da parte de Deus. E, no capítulo três, Paulo demonstra que até mesmo os judeus, confiando em seus méritos e obras, também merecem seu lugar no lago de fogo, que atormenta dia e noite aqueles que nele são lançados.

    O capítulo três conclui que todos os homens — seja qual for sua religião ou cultura —, se dependerem de suas obras ou da lei para se salvarem, caminharão com os próprios pés rumo ao inferno. Isso faz parte do que chamamos de doutrina da depravação total. Este é o diagnóstico que o médico apresentou a você.

    Se eu lhe entregasse um estojo de lápis de cor para pintar a Bíblia, com que cor você pintaria os três primeiros capítulos de Romanos? Creio que seria uma cor sombria, triste, talvez um cinza.

    Voltando ao texto, agora chegamos à palavra mais bonita, mais alegre e mais esperançosa da passagem:

    “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; MAS…


    Esse “mas” é lindo. Você pode pintá-lo com uma cor viva — quem sabe dourado ou verde. Esse “mas” representa as boas-novas do evangelho de Cristo.

    Para perceber sua importância, voltemos ao consultório médico.
    Imagine que, depois de ouvir tudo aquilo sobre sua saúde, você está desesperado, certo de que vai morrer, quando de repente o médico diz:

    — Seu quadro é gravíssimo, mas…

    Aquele “mas” traria esperança imediata. Você ficaria tão ansioso que, se o médico completasse:

    — Mas vou ali almoçar e depois volto para explicar,
    você certamente diria:

    — Pelo amor de Deus, não vá! O senhor disse “mas”! Existe uma cura para mim? Eu tenho uma chance de viver? Há uma saída?

    “…mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça.”


    Existe cura. Existe chance de viver. Há uma saída.
    Jesus é essa graça maravilhosa, esse favor imerecido que desceu da glória para receber sobre si a sentença dos nossos pecados. Essa graça que superabundou é aquela que se fez maldição por nós, derramando seu precioso sangue na cruz do Gólgota para nos salvar do lago de fogo eterno, preparado para Satanás e seus anjos.

    O pecado abundou — isso é uma verdade incontestável, pois o coração do homem é inclinado para o mal desde a sua meninice. Mas o Espírito Santo de Deus tem poder para reverter o quadro do pecador, adotá-lo como filho e fazê-lo herdeiro, com Cristo, das maravilhas celestiais.

    “Deus enviou o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”


    O texto deixa claro: o pecado foi grande, mas a glória da misericórdia de Deus é maior. E, para nossa alegria, essa graça está disponível a todos.

    Paulo disse que era o pior dos pecadores, mas recebeu a maravilhosa graça da salvação. Você também pode recebê-la. As portas da casa do Pai ainda estão abertas. O Médico dos médicos tem a solução para a doença da alma.

    Venha ser filho de Deus por meio de Jesus, se ainda és filho de Adão. Disse Jesus:

    “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora.”
    João 6.37



    Texto publicado originalmente no blog juliocelestino.com em 31 de maio de 2016

  • DOCES DE COSME E DAMIÃO

    CONVÉM CONSUMIR?


    Muitas pessoas têm dúvidas se é pecado consumir alimentos oferecidos aos ídolos. Alguns utilizam Romanos 14.14 como base para defender essa prática, texto que diz: “Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, a não ser para aquele que a considera impura; para esse é impura”. No entanto, ao meu ver, existem problemas claros em consumir alimentos que foram oferecidos a ídolos.

    Entendo que não é saudável participar desse tipo de prática por pelo menos duas razões. Primeiramente, os doces e alimentos oferecidos funcionam como um atrativo, um verdadeiro “cartão de visita” da idolatria, especialmente para crianças. Em segundo lugar, ao adquirir, consumir e ainda ensinar a outros irmãos que não há problema nisso, acaba-se contribuindo, ainda que indiretamente, para a manutenção e divulgação da idolatria que está por trás da prática, funcionando quase como uma forma de marketing religioso.

    Além disso, o apóstolo Paulo deixa claro que existe uma diferença entre não saber a procedência do alimento e saber. Se não houver conhecimento de que aquele alimento foi oferecido a ídolos, não há problema algum. Contudo, se a origem for conhecida, o mais prudente é buscar outra opção. Isso fica evidente em 1 Coríntios 10.27-28, quando Paulo diz: “E, se algum dos infiéis vos convidar e quiserdes ir, comei de tudo o que se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência. Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude”.

    Ainda que o texto não trate especificamente de doces distribuídos em determinadas práticas religiosas, há um princípio claro ali. Se eu consumir algo sem saber que foi oferecido a ídolos, não há culpa. Porém, sendo cristão e tendo conhecimento de que aquele alimento foi consagrado em um contexto idólatra, devo me abster, justamente por causa da consciência. Isso inclui também orientar outros irmãos, pois a omissão, quando se conhece a verdade, também se torna pecado.

    Soa estranho imaginar pais da igreja tentando economizar dinheiro e anunciando aos familiares que determinado centro espírita está distribuindo doces para as crianças, incentivando todos a irem buscá-los. Se tenho condições de comprar alimento, por que recorrer a algo que está diretamente ligado a uma prática idólatra? Muito menos faria sentido ensinar meus filhos que podem participar disso sem qualquer problema.

    A Escritura é clara quando afirma em 1 Coríntios 10.14: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria”. No mesmo capítulo, nos versículos 18 a 20, Paulo declara: “Considerai Israel segundo a carne: os que comem dos sacrifícios não são, porventura, participantes do altar? Que digo, pois? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o que se sacrifica ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, sacrificam-nas aos demônios e não a Deus; e não quero que sejais participantes com os demônios”.

    Em Apocalipse 2.14, o próprio Jesus aponta como pecado o ato de comer dos sacrifícios da idolatria. Evidentemente, se um crente estiver em situação de necessidade extrema e não tiver o que comer, o mal que estava na intenção de quem ofereceu o alimento não lhe trará condenação, pois Deus conhece todas as coisas e sabe da condição do faminto. Contudo, se posso me alimentar longe da idolatria, por que buscaria alimento justamente nela?


    Este texto foi publicado originalmente em juliocelestino.com em 8 de setembro de 2015

  • NÃO MURMURES, CANTA!




    “Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo; anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade.” – Salmos 92.1,2


    Ontem, mais uma vez, Deus me mostrou o quanto sou afortunado, mesmo que às vezes eu pense o contrário acerca da minha vida. Eu estava trabalhando no ambulatório e uma mãe chegou de Uber com seu filho de aproximadamente 17 anos que sofre de Síndrome de West e hemofilia. Para ajudá-la na mobilidade com o jovem, outro filho a acompanhou.

    Com dificuldade, desceram do carro e subiram os degraus da clínica. O jovem andava trôpego, mal conseguia ficar de pé sem o apoio da família. Ele não fala e, aparentemente, também não consegue se comunicar bem via gestos. Foi preciso a ajuda de duas enfermeiras, além da mãe e do irmão, para segurá-lo na cadeira de coleta e retirar o sangue necessário para o exame. Os gritos do jovem eram angustiantes. Após a retirada do sangue, eles voltaram para o setor de espera. Para mim, era impossível não se emocionar com os olhos marejados de lágrimas da mãe e o pesar do irmão que levou o jovem enfermo para passear e se acalmar no jardim.

    Durante os últimos sete meses, tive a oportunidade de conhecer histórias de pessoas que vivem com a enfermidade todos os dias. Pessoas que embarcam em um carro da prefeitura de sua cidade às duas ou três horas da madrugada para enfrentar uma viagem de três ou quatro horas toda semana para levar seu bebê a um ambulatório que fica na capital do estado. Eles ficam o dia inteiro na rua, pois o carro da prefeitura precisa desembarcar os pacientes de outros hospitais e aguardar todas as consultas agendadas no período matutino e vespertino para só então recolhê-los no fim da tarde e enfrentar a viagem de volta. Muitos não têm condições financeiras para se alimentar corretamente nessas viagens, alguns almoçam biscoitos com o suco artificial que ganham nos ambulatórios.

    Muitas vezes eu, minha família e alguns amigos reclamamos do preço dos produtos do supermercado, da dificuldade em pagar as contas e do desapontamento por não podermos ter coisas como carro, moto, casa própria, viagens, celular de última geração e uma roupa nova para cada saída. Essa energia negativa acaba afetando todas as áreas de nossa vida, nos deixando mais amargos e sozinhos. Assim não conseguimos enxergar as coisas simples e boas que Deus nos proporcionou.

    Aquele jovem nunca vai poder reclamar dos preços do supermercado, pois nunca terá capacidade cognitiva para saber o que está caro e o que está barato. Pior do que isso, ele nunca terá dó de gastar seu dinheiro suado, pois ele nunca vai trabalhar devido à sua incapacidade física. Ele jamais terá o desprazer de estar apertado nas finanças de casa e da família, pois ele jamais terá condições de constituir uma família como uma pessoa saudável. Ele jamais ficará triste por não ter um carro ou uma moto, porque ele sequer consegue andar com as próprias pernas.

        De igual modo, refleti sobre o peso da cruz daquela mãe, que, enquanto escrevo este texto, ao invés de estar triste com as finanças ou a falta de carros, motos, roupas e viagens, ela só queria que seu filho amado tivesse condições de viver uma vida normal como os outros rapazes, mas, infelizmente, isso é apenas um sonho. Já para mim, isso não é um sonho, é algo absolutamente normal. Meus filhos nasceram plenamente saudáveis. O problema é que de maneira generalizada, nos esquecemos dos milagres que vivemos todos os dias em nossa vida, por terem se tornado comuns, como a saúde, alimento diário, filhos saudáveis, um teto para morar, um emprego e principalmente a fé num Deus vivo.

    O hino 302 da Harpa Cristã descreve e aconselha bem sobre este assunto:

    “No mundo murmura-se tanto
    Entre os que cristãos dizem ser
    Em vez de louvores, há pranto
    Fraqueza em lugar de poder

    Murmuraram assim no deserto
    Em Mara, Israel murmurou
    Não veem que Deus está perto
    Jamais seu auxílio negou

    Em vez de murmurares, canta
    Um hino de louvor a Deus
    Jesus quer te dar vida santa
    Qual noiva levar-te pra os céus

    Tu vives, irmão, murmurando
    Tal como um escravo do mal
    Se Deus a tua fé está provando
    Tu não tens razão para tal

    Deus castiga aquele a quem ama
    De ti também não se esqueceu
    Qual pai amoroso te chama
    E cuida, sim, do que é seu

    E mesmo se as ondas rugirem
    No revolto e bravio mar
    Os céus poderás ver se abrirem
    Se um hino tua alma cantar

    Não temas ciladas, nem morte
    Pra cima tu deves olhar
    O leme segura bem forte
    Até do céu a luz raiar

    Se um hino cantar tu puderes
    Nas horas de grande aflição
    Então voarás, se quiseres
    Até a celeste mansão

    Nas asas da águia levado
    Bem perto do mar de cristal
    E por fim então libertado
    A terra, chegar, celestial

    Em vez de murmurares, canta
    Um hino de louvor a Deus
    Jesus quer te dar vida santa
    Qual noiva levar-te pra os céus.”

    Exortemo-nos a sermos mais gratos a Deus pelas coisas pequenas. Jesus nos ensinou: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei” (Mt 25.23). A prosperidade é uma questão de fidelidade, dedicação, tempo e fé. Cedo ou tarde, se ainda não chegou ou se já esteve e não mais está, através das portas da gratidão, poderemos conquistá-la. Não murmure, cante!

    Não murmures, canta!

  • ATÉ QUANDO, SENHOR?

    Habacuque 3.19

    Em meio às dificuldades da vida, o Senhor é o alívio para a nossa aflição:

    “O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.”


    Este livro registra, em grande parte, as queixas do profeta Habacuque, que viveu no sétimo século a.C., numa época em que os babilônios se tornavam o império mais poderoso daquela região. Habacuque não entendia como podia haver tanta maldade e injustiça em seu país. Ele também se perguntava por que Deus tolerava os babilônios, um povo cruel que ameaçava conquistar as terras de outros povos. Será que Deus não se importava com tudo isso?

    No entanto, há uma maravilhosa mensagem de Deus por trás deste texto. Habacuque usa a corça (cerva) para expressar a bênção que Deus poderia lhe proporcionar. Antes, precisamos entender a situação do profeta: Habacuque 1.2-3 revela sua aflição, mas ele sabia a quem recorrer nos momentos de amargura. Habacuque sabia que podia lançar sobre Deus suas ansiedades, pois Ele é o único que pode sondar os corações e mover o impossível.

    A corça era um animal típico da região, e inspirado pelo Espírito de Deus, o profeta a utiliza como símbolo. Aprendamos quatro características da corça para vivermos em comunhão com Deus.


    1 – A CORÇA NÃO VIVE EM CONFINAMENTO

    A primeira característica deste animal é que ele não vive confinado em um só lugar. Ela procura seu alimento nos lugares mais distantes que seu faro indica.

    Assim também devemos agir: por maiores que sejam nossos problemas, não devemos nos prender a eles 24 horas por dia. Não podemos nos limitar aos “pequenos reinos” que criamos — “meu casamento”, “meu trabalho”, “meu ministério”, “minha carreira”. Sem Deus, esses reinos podem se reduzir a pó rapidamente.

    Lancemos sobre Deus nossa ansiedade, pois Ele é a nossa força e pode nos tirar do confinamento das coisas deste mundo, direcionando nosso olhar para Aquele que levou sobre si nossas enfermidades. Os problemas diários surgirão, mas temos a quem recorrer e podemos continuar caminhando rumo à linda pátria celestial.


    2 – AGILIDADE PARA ESCAPAR DOS PREDADORES

    Outra característica da corça é sua velocidade. Ela é ágil e não pisa em falso, escapando facilmente de seus predadores.

    Quando depositamos nossa vida diante de Deus, Ele pode fazer nossos pés como os da corça, nos tornando confiantes de que, mesmo diante das investidas do inimigo, sempre haverá um escape providenciado pelo Senhor. Jesus disse:

    “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).


    Somente em nosso Salvador venceremos as adversidades, confiando e confessando. Sempre haverá um escape para aqueles que O amam.


    3 – A CORÇA É CAPAZ DE SENTIR O CHEIRO DE ÁGUA A QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA

    A corça consegue sentir a água e a grama a quilômetros de distância. Ela pode até perceber a água que corre sob a areia do deserto e segui-la até encontrá-la. A corça sobe aos picos mais altos, onde o orvalho é mais forte, para saciar sua sede.

    Assim deve ser a vida do cristão: sempre necessitados e dependentes do Espírito Santo, buscando a água da vida, que jorra para a vida eterna. Deus pode tornar nossos sentidos sensíveis à Sua presença. Mesmo no deserto, Ele nos guiará para as fontes mais altas, saciando a sede da nossa alma através do poder do sangue de Jesus, entronizados diante do Pai.


    4 – E ME FARÁ ANDAR SOBRE AS MINHAS ALTURAS

    Existem pessoas que talvez queiram nos ver caídos. Algumas não se alegram com nossa felicidade, nosso sucesso ou nossas conquistas. Porém, com plena convicção de fé, sabemos que há alguém que deseja nos ver andando sobre nossas alturas: Jesus Cristo.

    Ele nos dará pés firmes, com Sua Palavra como lâmpada. Muito se fala no livre-arbítrio do homem, mas pouco se menciona o livre-arbítrio de Deus. Quando o livre-arbítrio do homem se choca com o de Deus, adivinhe quem prevalece? Deus escolheu nos abençoar e proteger, permitindo que andemos nas alturas de Seu descanso.

    A corça é um animal que, ao ser visto em um monte íngreme, parece prestes a cair. Talvez você esteja enfrentando aflições assim como Habacuque, ou passando por um deserto espiritual. Mas o que as pessoas não sabem é que você não pisa nas areias movediças deste mundo — você está com os pés firmes na Rocha que é Jesus Cristo.

    Lancemos nossas ansiedades sobre Deus, pois Ele cuida de nós. Ele fará nossos pés como os da corça e nos fará andar sobre nossas alturas. Amém.


    Publicado originalmente no blog juliocelestino.com em 27 de fevereiro de 2015

Julio Celestino

Capixaba, formado em Gestão de Segurança Privada pela Uninter e Bacharel em Teologia pelo CETADEB. Diácono da Assembleia de Deus de Maruípe e professor de Escola Bíblica Dominical há sete anos, dedica-se ao ensino das Escrituras com clareza e profundidade. Escritor nas horas vagas, é casado com Larissa Celestino e pai de Bernardo e Helena.